segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

SEM ELOGIO, NÃO DÁ




Estamos vivendo na era da "Sídrome do Elogio". É incrível a capacidade que o ser-humano tem pra se iludir. Acredito que todo elogio ofertado, deve ser filtrado antes de aceito. É preciso saber o porque do elogio. Se as palavras proferidas pelo outro condizem com a sua realidade física, moral, espiritual, ou com seus atos diante das mais diversas situações.
Vejo pessoas ficarem totalmente envaidecidas por qualquer elogio recebido e, sem se darem conta, acabam ingerindo naquele momento uma dose de arrogância, que dose após dose, corrompe-se de vez a humildade. Não preciso é ser humilde a ponto de tornar-se um saco-de-pancada (excesso de humildade também pode ser prejudicial a sua saúde moral), mas é preciso ter suficiente para sustentar uma das bases nosso caráter.
Há quem tem a auto-estima "movida" a elogios, outro tipo de "combustível" não serve. São pessoas que não amam a si mesmas, amam o que os outros dizem a respeito delas. É isso que importa. Acabam se transformando em dependentes de louvor. Quando não são reconhecidas por seus méritos, usam de uma estratégia bem peculiar: distribuem elogios para os que estão ao seu redor e esperam que o elogiado lhe pague na mesma moeda.O Elogiado, acreditando ser um gesto de educação ressaltar as "qualidades" do outro, assim o faz. O portador da "Síndrome do Elogio", encontra ali naquele elogio alívio para a sua fissura.
Existem também pessoas que mudam a partir de elogios (ou de vários). Não são, não tem ou não fizeram o que foi notado aos olhos do outro, mas tomam gosto pela coisa e para não decepcionar e perder o "título", vão em busca de saber o que foi mesmo que o outro reconheceu nele e vestir com "mérito" o elogio que se ajustará ao tamanho da sua vaidade.
As criticas nunca foram bem-vindas pela maioria, mesmo as famigeradas criticas construtivas. Elogios gratuitos é o que aproxima as pessoas. Quer se dar bem e ser destacado no seu meio social, profissional? Elogie. Ao invés de ajudar, elogie. Ao invés de contribuir para o aperfeiçoamento do outro, elogie (mesmo ele estando totalmente errado). Quer mais dinheiro emprestado? Elogie os seus credores. Quer que a sua mulher "libere" partes do corpo até então negadas? Elogie-a!
Elogie! Elogie sempre! Elogie a todos! Mas nunca deixe de elogiar...

sábado, 1 de dezembro de 2007

SERÁ QUE VALE MESMO A PENA?


Por mais que você se sinta realizado, há sempre algo para ser conquistado. Jamais se dará por satisfeito por ter alcançado algo que tanto almejou. Passado algum tempo, você enjoará da tal conquista e provavelmente a colocará de lado, indo em busca de um novo objetivo. A satisfação humana é efêmera a partir do instante que a rotina entra em ação. O prazer maior consiste no sonho e no ato da conquista. Acho que tudo se perde nessa palavra: rotina. A rotina é degradante, te consome a carne, a essência e o espírito. Não há escapatória, por mais que você fuja, a rotina sempre o alcançará. Por mais que você inove, a rotina estará la na frente lhe acenando. A rotina anda de mãos dadas com tempo, tornando-se assim imbatíveis. Eles transformarão tudo o que há de mais novo em velho. E você? Bom, você estará ocupado (inconscientemente numa nova rotina) em busca de novas conquistas.

NATAL


Todo ano é a mesma coisa... É chegada a época em que a desigualdade e votos de inverdades se espalham por todos os lados. Nunca vi o Natal com bons olhos. Nunca gostei dessa data paradoxal onde o consumismo e a falsa compaixão dão as mãos e saem mundo afora contaminando as pessoas. Dizem que o Brasil é um país culturalmente farto, mas não é isso que vejo quando chega o Natal. Somos engolidos por um furacão de costumes e crenças que não nos pertencem. Peru? Chester? Pinheiro? Neve? Um bando de veadinhos puxando um trenó com a figura mais bestial de todos os tempos, Papai Noel (um gordo tonto que se veste de vermelho, e entra pela chaminé com um saco de presente. E o por falar em chaminé, na sua casa tem chaminé? Na minha não). São hábitos que não condizem com a nossa cultura. Estamos na chegada do verão quando é Natal. Apesar de que, acho que o Saci-Pererê com aquele gorro vermelho é meio Papai Noel e, sendo ele uma figura do folclore brasileiro, porque não lançarmos o Saci para candidato a Papai Noel? Todos hão de convir que Saci é bem mais a cara do Brasil.
Agora vamos falar da desigualdade. As crianças independentes de sua condição financeira, hipnotizadas pelo apelo esmagador da mídia e da sociedade, sonham com os seus respectivos presentes. Creio que a maioria se frustra ao desembrulhar os pacotes, pois geralmente não recebem aquilo que tanto esperavam, a não ser as crianças mais abastadas, estas sim, às vezes recebem até mais do que merecem, mas como estamos num país miserável, estou aqui para falar dos excluídos ou “semi-excluídos”. Crianças pobres geralmente ganham de presente ou de doação (época das doações, famílias inteiras fazem até “ceia” com doações) brinquedos que não vão de encontro com aquilo que tanto almejaram. Mesmo sendo pobres, elas querem videogame, bicicleta, computador, carrinhos e bonecas que parecem ter vontade própria e não aquela avalanche de bolas plásticas que estouram ao menor sinal de descuido. Bonecas que parecem ter vontade própria sim, mas só se for de se “matarem”, pois essas se desmontam ao serem manuseadas e as peças não se encaixam mais. Os carrinhos que mais parecem uma bolha de plástico com 4 rodas e que não estimula a imaginação de ninguém. Não se sabe o que é pior: Deixar a criança acreditando que ela tem tanto “direito” quanto as demais crianças financeiramente privilegiadas ou explicar a elas desde cedo, a sua triste realidade de vítima do sistema e correr o risco de que ela parta para o mundo da criminalidade se transformando num delinqüente juvenil.
Isso sem contar com o tal de “Feliz Natal”, “Próspero ano novo, saúde, paz... blá-blá-blá”. Nunca vi tanta mentira e hipocrisia sendo cometidas em tão curto espaço de tempo. Você já reparou que a maioria das pessoas (uns 90%) faz isso por obrigação? Nem um sorriso esboçam no rosto e quando esboçam o tal sorriso é amarelo, sem graça? Quando não, nota-se no abraço uma ânsia para que tudo aquilo acabe o quanto antes. Se o cumprimento não é espontâneo, se os votos não são sinceros, então pra que fazê-los? Por educação? Mentir também é falta de educação! Época besta essa, as pessoas se aproximam, “relevam” as diferenças para ano que se inicia, elas possam se estapear mais aliviadas.
E quanto a parte cristã do Natal? Bem, essa fica a cargo da sua consciência.
Que venha o Natal.

O PORQUE DE TUDO


Para muitas pessoas a vida torna-se uma sucessão de frustrações por uma simples questão: Nem as coisas boas aprenderam a aceitar sem questionar.Quebram qualquer encanto e situação. É como se, ao adquirir um aparelho eletrônico novo, e ao invés usufruir dele, vão logo desmontando pra ver como funciona. Não dão conta de montá-lo novamente e, frustrados o deixam de lado.

INTERESSE POUCO É BOBAGEM


Três moças em suas respectivas bicicletas estavam sendo seguidas por um senhor de chapéu em sua imponente pick-up cabine dupla. Ele chegou próximo a elas e buzinou. O engraçado nisso tudo foi vê-las improvisar uma reação de susto quando na verdade já esperavam por aquilo. Elas falaram qualquer bobagem sorrindo e o senhor respondeu com uma acelerada seguida de uma risada “sou o máximo”. As moças não tinham rostos bonitos e muito menos corpos atraentes. Mas aquele senhor que aparentava ter mais de 60 anos não podia abrir mão do seu poder de “sedução”. Não pude ver no que se sucedeu aquela paquera entre gerações diferentes, pois segui caminhando. Mas não é preciso muita imaginação para deduzir em que resultou aquilo. Peguei-me pensando: Se tivesse uma pick-up tão atraente, eu a usaria para atrair a atenção de mulheres mais belas e menos óbvias. Sim, que tivessem curvas mais bem definidas, sorriso completo e olhassem para mim e para a pick-up como um conjunto, e não apenas para a pick-up como se pick-up estivesse a fim delas. São no mínimo curiosas as desculpas que as pessoas dão para tentar justificar quando está evidente que agiu por interesses. Mulheres belas com homens feios, porém ricos, sempre tem a desculpa para qualquer indagação sobre o seu “amor”: “Os olhos dele são lindos.”, “Eu acho o cotovelo dele um charme!”, “Tá, ele não é muito bonito, mas me trata tão bem, é tão bonzinho que a beleza interior dele transcende”, “O dinheiro dele pouco importa, se não o amasse, jamais estaria com ele. Amor acima de tudo. O que foi, porque você está me olhando desse jeito?”, “Ok, confesso que no início era apenas por interesse, mas ao longo do tempo, acabei me apaixonando por ele e hoje tenho o útil unido ao agradável.”, e por aí vai... O difícil é ouvir tudo isso e ficar quieto. Eu acredito que quem se vende, jamais poderá sentir-se feliz. Para usufruir do dinheiro de outra pessoa, você terá que levá-la de brinde (a não ser que você anuncie o assalto logo de cara), logo não poderá gastar o dinheiro da forma que bem entender. Terá que fingir na mesa, no banho e sacrificar-se na cama. Mentiras sempre são insustentáveis, apenas algumas custam mais a cair por terra do que as outras. Bom, a não ser que você saiba mentir de uma forma que convença até a si mesmo. Neste caso, procure um médico e vá contar suas mentiras a ele.

Nada substitui a segurança de dizer que: O que tenho, é meu de fato. Não de uma forma mesquinha, mas sim sabendo valorizar o real valor dos seus esforços. Viver na condicional não deve ser muito agradável.

E essa coisa de interesses não se limita apenas aos relacionamentos amorosos, vai além, muito mais além. E todos nós sabemos disso.

Eu estava na fila de uma casa lotérica para pagar uma conta. A fila estava enorme. Eis que surge uma moça bonita, bem vestida e vai para o final da fila. Mas isso foi por alguns minutos, bem lá na frente ela viu uma outra moça que conhecia e parou ao lado dela. Não tão bem trajada, humilde e comportamento tímido notava-se sua surpresa pela consideração e felicidade da outra por estar ali tão comunicativa e prestando atenção em cada palavra que ela dizia. A fila começa a andar e as duas caminham lado a lado, até que a “simpática” com um sorriso cínico diz que vai ficar por ali mesmo, pois a fila havia crescido e nem se lembrava mais qual era o seu lugar e ressaltando a falsa felicidade por tê-la encontrado é atendida rapidamente e despede-se da amiga com um tchau não tão cordial quanto à abordagem. O mais interessante nisso tudo, é que muitas pessoas na fila notavam o mesmo que eu, menos a moça generosa.

Eu não entendo o porquê as pessoas fazem tantos rodeios para pedir um favor. Por mais intimidade que possa existir entre elas, o rodeio é praticamente inevitável. Prepara-se o terreno para deixar o outro a vontade da seguinte maneira:

1º - demonstra interesse pelo estado da pessoa. Como ela está. Se aquele problema se resolveu. Como está a família (do mais novo ao mais velho). Se a suspeita de Leishmaniose do seu cão se confirmou, etc.;

2 º - faz questão de ressaltar o quanto o quer bem e que estará disponível para o que precisar;

3 º - fala sobre o drama que está enfrentando no momento com ênfase no ponto que será o pedido;

4º - com a voz num tom baixo, doce e praticamente pedindo misericórdia, pede-se o favor.

Caso a resposta seja positiva, o interessado agradece de forma exaustiva como se não existisse pessoa melhor no mundo (e naquele momento não há mesmo). Agora, se ouvir um não, um buraco no chão se abre e, imediatamente o sentimento de frustração soma-se a um ódio repentino. Mentalmente o interessado começa a praguejar: Tomara que você se dê mal em tudo que faça! Bem feito que aquele cachorro babão morreu de leishmaniose, tomara que você também esteja! Agora entendo porque a sua família não o trata muito bem, um avarento é tem mais que ser isolado mesmo. Desejado mentalmente o mal, o interessado se despede com um sorriso amarelo e dizendo que entende perfeitamente o porquê do outro não poder ajudá-lo naquele momento, diz que está tudo bem.

E quando não se tem coragem de pedir pessoalmente e manda outra pessoa pedir no seu lugar? Provavelmente é pior. Uma situação que diz respeito ao seu interesse, e você não estará lá para argumentar, ficará a cargo do outro. Se a maioria das pessoas tem vergonha de pedir favores em seus nomes, o que dirá em relação em nomes dos outros? A pessoa incumbida de pedir o favor, não terá o mesmo desempenho que só você teria (a não ser que seja algo do interesse dela também). Ela chegará, pedirá de forma acanhada procurando ser o mais breve possível para ver-se livre daquela incumbência.

Caso a resposta seja sim, o alívio é imediato. Sendo a resposta não, você terá que praguejar contra duas pessoas.

E por falar em pedir em nome dos outros, o que dizer das moças que ligam para nossas casas pedindo contribuição para instituições filantrópicas e afins? Estas sim, são exemplos de persuasão e determinação. Pedem pra falar com o responsável, caso você diga que não é o responsável, não tem problema, ela conta uma historia que ninguém quer ouvir do mesmo jeito. A voz angelical, as palavras ditas numa seqüência que não abre espaço para você falar, expõe ali uma triste e ao mesmo tempo linda estória de amor de quem poderia estar roubando, matando ou se prostituindo, mas não, está ali engajado em salvar o próximo, fechando o texto com gerúndio, diminutivo e súplica: “Senhor, poderíamos estar contando com a sua contribuição mensal de apenas dez “reaizinhos”? É muito importante para as nossas crianças.” Quando você diz que não vai ajudar, o tom de voz muda, a beleza da caridade se expira e desligam o telefone como se tivesse acabado de falar com a própria encarnação do demônio. Algumas chegam a questionar antes de desligarem, o porquê do seu não. Aí você explica que no momento não está em condições ou que já ajuda uma instituição que é da sua cidade etc. Aí, fica um clima de que só terá salvação quem ajudar a instituição que vos fala momento. Você acha que ela desistiu? Não, ela vai logo deixando bem claro que não tem por onde fugir. Diz que entende e que no mês que vem quem sabe as coisas estejam melhores pra você e possa de fato contribuir.

Numa tarde qualquer do mês seguinte, o seu telefone toca. Advinha quem é? Pois é...

“Boa tarde. Eu gostaria de estar falando com o responsável pela residência...”

Um dia eu gostaria muito de assistir o treinamento desse pessoal. Tenho certeza que num dado momento eles são orientados assim: Ajam como se estivessem diante do Criador no dia do juízo final, ou seja, peçam por misericórdia em nome de nossas criancinhas.

Eu não tenho nada contra esse tipo de trabalho, acho que temos que ajudar mesmo, mas com três condições: De coração aberto, sem visarmos recompensa por isso e o mais importante, sem pressão. A ladainha é o que mata a boa vontade das pessoas.

Ainda nessa de pedidos e interesses, tem coisa mais interesseira do que criança?

Sim, crianças são mercenárias e corruptíveis. De uma forma inocente, mas são. Temos que educa-las para que deixem isso de lado o quanto antes, se não, quando crescerem terá grandes chances de entrarem no cenário político (que fique claro que eu acredito na honestidade de uma minoria política).

Um exemplo simples da manipulação humana por conta de seus interesses na infância, é o fato de uma criança surgir diante de outra criança com um brinquedo diferente ou uma guloseima qualquer. A partir daquele instante, a criança interessada começa a criar vários mecanismos para ter acesso ao objeto de desejo.

Vamos aos mecanismos:

1 º - olha seguidas vezes para o objeto de desejo e para o rosto do seu proprietário;

2 º - aproxima-se puxando assunto e tentando disfarçar o interesse;

3 º - se o outro não se manifestar, o interessado procura comentar sobre objeto de desejo aguardando para que lhe seja ofertado;

4º - uma vez conseguido acessar o objeto de desejo, o interessado não irá se contentar com pouco, se não tiver nada para ofertar ali no momento como troca, vai-se levando o outro na conversa até tirar o máximo de proveito.

Há crianças que não são dadas a criar mecanismos para se alcançar o objeto de desejo, talvez porque não são boas estrategistas ou por falta de paciência mesmo. Neste caso, vão lá, arrancam o objeto de desejo das mãos da outra criança, tentam se evadirem do local do “crime” e quando são pegas, repreendidas e em tempo devolverem o objeto causador da discórdia, inicia-se ali um campo de batalha. A criança age como se ela estivesse sendo lesada ao ter que devolver o que não lhe pertencia. Sim, não lhe pertencia, mas agora que está em seu poder, pertence!

Os pais devem atentar muito para essa questão. Se não orientada corretamente, a criança corre o sério risco de repetir esse ato aos 10, 20, 30, 40 anos...

TIMIDEZ



Nunca fui dado a exercícios físicos. Por um motivo óbvio: Eles cansam e quando não, nos causam dores. Mas na vida nem sempre fazemos o que gostamos, resolvi retomar a caminhada. Faz um bom tempo que deixei de caminhar, antes eu caminhava com uma prima, mas agora que ela teve um filho, tem mais o que fazer. Cansado de procurar alguém que queira sofrer comigo, comecei ontem a caminhar sozinho. Até que foi interessante, fazer todo o trajeto sozinho, observando as dezenas de pessoas que por ali transitam. Com a minha prima, a caminha era acompanhada de risos, falávamos bobagens o tempo todo. Sozinho, mantenho um ar sério e uma cara de poucos amigos. São 50 minutos de caminhada numa ciclovia ao lado de avenida que liga a cidade a um bairro distante que fica próximo a uma das saídas da cidade. ConjunPublicar postagemto de moradias populares.

Hoje as minhas pernas doeram mais que ontem. Minhas pobres panturrilhas pediam para que eu diminuísse as passadas. Fiquei pensando: Até que ponto é válido isso? Se exercícios físicos fossem bons, jogadores do futebol não sofreriam mal súbito em pleno gramado. É... eu sei, desculpinha esfarrapada.

Ontem eu vi duas moças caminhando, ao passaram por mim, uma delas olhou-me de uma forma no mínimo satisfatória para o meu ego. Hoje fui caminhar com uma camisa mais bonita e disposto a esboçar um sorriso meio que safado (mulheres gostam de sorrisos safados). Nem sinal das moças... suei a camisa bonita a toa e mantive o ar sério por todo trajeto.

Escolhi caminhar no final da tarde, saio às 17:30. É um horário em que o movimento é mais intenso. Veículos, pedestres e ciclistas voltando para casa. Nesse vai-e-vem de pessoas, eu procuro prestar atenção em tudo que minhas vistas acusam. Há várias pessoas caminhando. Pessoas simples, roupas surradas, cabelos esvoaçados e muitas com passos desordenados sob calçados às vezes inapropriados. A ciclovia é irregular, o asfalto está cheio de saliências, um verdadeiro sobe, desce e caminha. É um local escolhido pelos menos favorecidos para tomarem ali suas doses diárias de exercícios. Quando vejo pessoas que estão mais gordas que eu, fico até animado. É impressionante a capacidade que temos para sentirmos mais aliviados ao vermos pessoas piores do que nós exatamente naquilo que é o problema da vez. Vejo cinturas enormes que comparadas a minha, faz com que eu me sinta apenas um pouquinho fora de forma. Tenho 1,80 m e peso 88 kg. Será que além de cansaço e dores, eu conseguirei perder alguns gramas? Tá... depois eu vejo essa coisa de reeducação alimentar. Um sacrifício de cada vez.

Quando saio de casa caminhando, os vizinhos me olham com cara de interrogação. Vejo o olhar deles me perguntando: De novo essa coisa de caminhada? Vamos ver quanto tempo ele agüenta. E ao voltar esbaforido com o cérebro numa luta constante para que as pernas obedeçam aos seus comandos, lá estão os vizinhos: Pela cara dele e pela forma que caminha, hoje foi o seu último dia de caminhada. Uma das vantagens de caminhar sozinho é que eu vou o dia que eu quero. Sem companhia para caminhar, sem cobrança. Pois assim, ninguém vai deixar de ir caminhar ou ir sozinho sendo que o combinado era irmos juntos.

Eu não sei até quando vou caminhar, não estipulei um prazo para caminhar e nem pretendo seguir essa rotina sempre, apenas resolvi fazer algo para deixar o meu inimigo companheiro de lado ao menos um pouco, o sedentarismo. Deus sabe o quanto está sendo difícil esta separação.

Nascemos e somos educados para vivermos em sociedade, mas quando nos vimos caminhando só em meio a sociedade, temos a sensação de que não pertencemos a aquele mundo. Não é algo que se limita apenas à timidez, é uma sensação mais complexa, é como se estivéssemos sendo avaliados diante de olhares extremamente críticos e então, por incomodarmos com isso, às vezes perdemos de apreciar a beleza da paisagem. Muitas pessoas parecem saber lidar com naturalidade diante de situações onde são expostas as demais pessoas e se vêem sozinhas. Eu disse parecem porque acredito que a coisa não seja bem assim. Acho que na verdade elas estão treinadas para sobressair-se dessa situação com leveza, mas lá no fundo, a insegurança existe, apenas está bem acorrentada para que não cause nenhum dano.

Analisando a timidez por outro lado, vejo que muitas vezes as pessoas não estão preocupadas com a forma que nos portamos. Se você quer passar despercebido, basta que não faça nada para chamar a atenção, certo? Mas na pratica, há pessoas tão tímidas que ficam inquietas querendo que aquela situação termine o quanto antes, e é aí que a elas acabam fazendo com que as atenções se voltem para elas. O mal estar do outro me atrai e me comove, é diversão garantida.

Quem diz que não se preocupa com que os outros vão pensar ou dizer, é porque já está preocupado. Senão, para onde vai a moralidade?

Sentar numa mesa de bar, lanchonete ou restaurante sozinho não é muito agradável. Acho que ninguém gosta disso. É como se esperasse por alguém que não virá. Ou então, como se não tivesse amigos. Neste caso é impossível passar despercebido. As pessoas passam a reparar o pobre isolado. Conversa vai, conversa vem e estão sempre dando uma olhadela para verem se alguém chegou para fazer companhia. Automaticamente, quem está só, passa a prestar atenção na conversa do pessoal da mesa ao lado. Sente-se aliviado quando nota que não é a pauta em questão. E já que ele não é o assunto, presta mais atenção ainda para acompanhar o assunto até o fim. As pessoas detestam não saberem o final das coisas. Sejam eles quais forem.

Tímido ou não, a verdade é que ninguém gosta de estar sozinho em público. E é por isso que eu digo: Em determinadas situações, antes mal acompanhado do que só. É melhor ter com quem brigar, do que brigar sozinho.