sábado, 1 de dezembro de 2007

TIMIDEZ



Nunca fui dado a exercícios físicos. Por um motivo óbvio: Eles cansam e quando não, nos causam dores. Mas na vida nem sempre fazemos o que gostamos, resolvi retomar a caminhada. Faz um bom tempo que deixei de caminhar, antes eu caminhava com uma prima, mas agora que ela teve um filho, tem mais o que fazer. Cansado de procurar alguém que queira sofrer comigo, comecei ontem a caminhar sozinho. Até que foi interessante, fazer todo o trajeto sozinho, observando as dezenas de pessoas que por ali transitam. Com a minha prima, a caminha era acompanhada de risos, falávamos bobagens o tempo todo. Sozinho, mantenho um ar sério e uma cara de poucos amigos. São 50 minutos de caminhada numa ciclovia ao lado de avenida que liga a cidade a um bairro distante que fica próximo a uma das saídas da cidade. ConjunPublicar postagemto de moradias populares.

Hoje as minhas pernas doeram mais que ontem. Minhas pobres panturrilhas pediam para que eu diminuísse as passadas. Fiquei pensando: Até que ponto é válido isso? Se exercícios físicos fossem bons, jogadores do futebol não sofreriam mal súbito em pleno gramado. É... eu sei, desculpinha esfarrapada.

Ontem eu vi duas moças caminhando, ao passaram por mim, uma delas olhou-me de uma forma no mínimo satisfatória para o meu ego. Hoje fui caminhar com uma camisa mais bonita e disposto a esboçar um sorriso meio que safado (mulheres gostam de sorrisos safados). Nem sinal das moças... suei a camisa bonita a toa e mantive o ar sério por todo trajeto.

Escolhi caminhar no final da tarde, saio às 17:30. É um horário em que o movimento é mais intenso. Veículos, pedestres e ciclistas voltando para casa. Nesse vai-e-vem de pessoas, eu procuro prestar atenção em tudo que minhas vistas acusam. Há várias pessoas caminhando. Pessoas simples, roupas surradas, cabelos esvoaçados e muitas com passos desordenados sob calçados às vezes inapropriados. A ciclovia é irregular, o asfalto está cheio de saliências, um verdadeiro sobe, desce e caminha. É um local escolhido pelos menos favorecidos para tomarem ali suas doses diárias de exercícios. Quando vejo pessoas que estão mais gordas que eu, fico até animado. É impressionante a capacidade que temos para sentirmos mais aliviados ao vermos pessoas piores do que nós exatamente naquilo que é o problema da vez. Vejo cinturas enormes que comparadas a minha, faz com que eu me sinta apenas um pouquinho fora de forma. Tenho 1,80 m e peso 88 kg. Será que além de cansaço e dores, eu conseguirei perder alguns gramas? Tá... depois eu vejo essa coisa de reeducação alimentar. Um sacrifício de cada vez.

Quando saio de casa caminhando, os vizinhos me olham com cara de interrogação. Vejo o olhar deles me perguntando: De novo essa coisa de caminhada? Vamos ver quanto tempo ele agüenta. E ao voltar esbaforido com o cérebro numa luta constante para que as pernas obedeçam aos seus comandos, lá estão os vizinhos: Pela cara dele e pela forma que caminha, hoje foi o seu último dia de caminhada. Uma das vantagens de caminhar sozinho é que eu vou o dia que eu quero. Sem companhia para caminhar, sem cobrança. Pois assim, ninguém vai deixar de ir caminhar ou ir sozinho sendo que o combinado era irmos juntos.

Eu não sei até quando vou caminhar, não estipulei um prazo para caminhar e nem pretendo seguir essa rotina sempre, apenas resolvi fazer algo para deixar o meu inimigo companheiro de lado ao menos um pouco, o sedentarismo. Deus sabe o quanto está sendo difícil esta separação.

Nascemos e somos educados para vivermos em sociedade, mas quando nos vimos caminhando só em meio a sociedade, temos a sensação de que não pertencemos a aquele mundo. Não é algo que se limita apenas à timidez, é uma sensação mais complexa, é como se estivéssemos sendo avaliados diante de olhares extremamente críticos e então, por incomodarmos com isso, às vezes perdemos de apreciar a beleza da paisagem. Muitas pessoas parecem saber lidar com naturalidade diante de situações onde são expostas as demais pessoas e se vêem sozinhas. Eu disse parecem porque acredito que a coisa não seja bem assim. Acho que na verdade elas estão treinadas para sobressair-se dessa situação com leveza, mas lá no fundo, a insegurança existe, apenas está bem acorrentada para que não cause nenhum dano.

Analisando a timidez por outro lado, vejo que muitas vezes as pessoas não estão preocupadas com a forma que nos portamos. Se você quer passar despercebido, basta que não faça nada para chamar a atenção, certo? Mas na pratica, há pessoas tão tímidas que ficam inquietas querendo que aquela situação termine o quanto antes, e é aí que a elas acabam fazendo com que as atenções se voltem para elas. O mal estar do outro me atrai e me comove, é diversão garantida.

Quem diz que não se preocupa com que os outros vão pensar ou dizer, é porque já está preocupado. Senão, para onde vai a moralidade?

Sentar numa mesa de bar, lanchonete ou restaurante sozinho não é muito agradável. Acho que ninguém gosta disso. É como se esperasse por alguém que não virá. Ou então, como se não tivesse amigos. Neste caso é impossível passar despercebido. As pessoas passam a reparar o pobre isolado. Conversa vai, conversa vem e estão sempre dando uma olhadela para verem se alguém chegou para fazer companhia. Automaticamente, quem está só, passa a prestar atenção na conversa do pessoal da mesa ao lado. Sente-se aliviado quando nota que não é a pauta em questão. E já que ele não é o assunto, presta mais atenção ainda para acompanhar o assunto até o fim. As pessoas detestam não saberem o final das coisas. Sejam eles quais forem.

Tímido ou não, a verdade é que ninguém gosta de estar sozinho em público. E é por isso que eu digo: Em determinadas situações, antes mal acompanhado do que só. É melhor ter com quem brigar, do que brigar sozinho.

Um comentário:

Valentina disse...

q bom q está caminhando...
rsrs